A morte recente de 2 triatletas que tiveram paradas cardiorrespiratórias, durante a etapa de natação do Triathlon da cidade de Nova York fez com que o Jornal The NY times publicasse um artigo intitulado Preparing Triathletes for the Chaos of Open Water (em Inglês algo como Preparando os triatletas para o caos da natação em águas abertas)l movimentou um bocado as comunidades de triathlon na Internet levantando questões a respeito da segurança da etapa de natação nas provas de triathlon.
Aqui no Brasil já tivemos episódio similar quando Breno Cardoso Rebehy se afogou durante a etapa de natação de uma prova da CBTRi em 2009 . Na ocasião só foi dado falta do atleta ao final da prova quando ao retirarem as bikes da área de transição se deram conta que a bike que havia sobrado era de um atleta que não tinha terminado a etapa de natação.
Com esse acontecimento a CBTri não se pronunciou a respeito de novas medidas de segurança durante a etapa de natação, e é exatamente isso que a USA Triathlon fez a respeito do caso dos triatletas que morreram no Rio Hudson.
Riscos da natação em águas abertas
Contudo os perigos relacionados a natação em águas abertas existem e normalmente são relacionados ao estresse do ambiente. Você pode ficar nervoso e hiperventilar, pode trombar com alguém, pode ser atropelado por um nadador mais rápido, seus óculos podem sair, se você engasgar, se enroscar na boia…Muitas dessas coisas são comuns à situação, o problema ocorre quando isso acontece e o atleta não está preparado para saber o que fazer em cada uma das situações citadas acima, e é aí que o pânico pode surgir e gerar algum problema.
Eu nado desde 1994 (por favor não façam as contas!) apesar disso já tive 2 episódios sérios onde eu achei que fosse morrer de verdade durante a etapa de águas abertas. A primeira vez durante a etapa de natação do Troféu Brasil de Triathlon em 1998, quando liderava a natação e me enrosquei na corda ao contornar a primeira bóia. No calor do momento tive dificuldade de me soltar da corda, e com outros 100 atletas da minha bateria que vinham logo em seguida, que com toda solidariedade não exitaram de passar por cima de mim e tentar me ajudar aos socos e pontapés, entrei em pânico e quase me afoguei! Na segunda vez, larguei forte para tentar me desvencilhar dos nadadores mais lentos (sempre tento nadar os primeiros 200m bem fortes), o problema foi que ao respirar, aspirei a água espirrada pela braçada de outro nadador e engasguei, até aí nenhum problema se não fosse novamente a solidariedade dos meus amigos triatletas que de novo insistiam em me ajudar carinhosamente aos socos e pontapés.
Se tivesse ocorrido algo não estaria aqui escrevendo, mas confesso que durante esses dois episódios como poucas outras vezes em minha vida, pensei realmente que iria morrer. Os episódios podem ter durado apenas alguns segundos, mas que se não fosse pela minha experiência de muitos anos de águas abertas e meu esforço para tentar manter o auto-controle poderia ter acontecido algo pior.
No ano passado o The Journal of American Medical Association, publicou um artigo que mostrava que de 13 entre 14 mortes que ocorreram no triathlon de 2006 a 2008 ocorreram durante a etapa de natação. Autopsias em 9 desses indivíduos constataram que 7 deles tiveram anormalidades cardíacas, o que os pesquisadores ligaram ao estresse exacerbado das vítimas durante a natação em águas abertas.
Segundo o estudo o risco de morte no triathlon é de 1,5 mortes para cada 10o.000 participantes, o que é o dobro se comparado com o risoc de uma maratona que é de a 0,8 mortes por 100.000 participantes.
A dificuldade em se preparar para essas situações está na impossibilidade de simular toda a situação de águas abertas na piscina, que é onde os atletas realizam a maior parte do seu treinamento.
Soluções
Para mim a reflexão deveria partir de dois caminhos, primeiro a discussão de maneiras para aumentar a segurança na natação do triahtlon (mais caiaques, largadas em baterias, menos atletas em cada largada…) e por fim uma “certificação” para águas abertas com é o que alguns técnicos da USA Triathlon estão propondo.
- Como participante de triathlon desde 1995, tenho percebido um número cada vez maior de pessoas despreparadas participando de um triathlon. E penso que com isso a chance de uma tragédia ocorrer é maior.
- Imagine se tivéssemos uma certificação que atestasse que o atleta tem condições de nadar por 40-60min em águas abertas. E assim só poderiam participar de um triathlon as pessoa que possuíssem a certificação.
- Preparação: Como técnico de tempos em tempos tiro as raias da piscina coloco boias e tenho meus nadadores nadando em círculos na piscina durante as séries. Confesso que esse não é o treino preferido de alguns deles. Mas garanto que, mesmo o treino não sendo tão popular, sua importância é grande na preparação dos meus atletas para as provas de águas abertas.
É só com muita reflexão e preparação por parte dos treinadores, organizadores e atletas que conseguiremos fazer com que o esporte continue crescendo de uma forma sustentável e segura.
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Bons treinos!
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