Ciclovias em Bogotá – Uma experiência que deu certo!

Depois de um mês conturbado para os ciclistas onde tivemos a morte do empresário e cicloativista Antonio Bertolucci, que foi brutalmente atropelado por um motorista de ônibus; um ferrenho debate no Jornal da Cultura e um post de uma ciclista que sofreu uma agressão de uma motorista no Morumbi, que resultou numa movimentação inacreditável na internet, resolvi me manifestar e colocar minha opinião a respeito do assunto.

Com muita alegria, tive a contribuição de um Guest-post do meu irmão, Bruno Langeani, que recentemente teve a oportunidade de conhecer algumas ciclovias  da Colômbia (ou como dizem por lá ciclo rutas), e preparou esse artigo pra compartilhar o que viu.

Bogotá – uma cidade que deu certo!

Por Bruno Langeani

Estive em Bogotá em maio deste 2011, quando pude conhecer dois projetos de ciclovias interessantes que gostaria de compartilhar no Espírito Outdoor.

Uma análise rápida da cidade
Bogotá é uma cidade apenas 16 anos mais velha que São Paulo e possui quase 7 milhões de habitantes; sendo considerada uma das mais importantes da América Latina.

Em termos de políticas públicas, ficou muito famosa pelas soluções de mobilidade implantadas. A mais destacada é o TRANSMILENIO, corredores de ônibus articulados (BRT – Bus Rapid Transit) espalhados por quase 100km das rotas principais de Bogotá. As rotas de bairro são realizadas com veículos menores, o que ajuda a racionalizar bastante o trânsito. Os terminais são limpos e organizados e grande parte da população de diversos níveis sociais opta pelo uso do transporte público. Estima-se que aproximadamente 1,4 milhão de pessoas utilizem o serviço diariamente.

Um dos responsáveis pela transformação da cidade e pela “luta contra os carros” é Enrique Peñalosa, prefeito de Bogotá entre 2001 e 2003. Ele implementou não só o projeto do Transmilênio, mas também a transformação de avenidas centrais deterioradas em espaços públicos de lazer (incluindo aqui as ciclovias).

Peñalosa ficou famoso pela defesa dos transportes públicos e pela luta por criar mecanismos e incentivar a apropriação dos espaços públicos pelos cidadãos. Em sua cruzada, o ex-prefeito repete alguns  interessantes mantras como: “estacionamento não é um direito constitucional em lugar algum; é uma questão privada que deveria ser resolvida em espaços privados, com fundos privados. Estou certo de que no futuro, todos os países e cidades irão implantar esquemas para tarifar o uso do carro e a renda resultante deve ser utilizada para melhorar o transporte público.” (Fonte).

ciclovia na colombia
Pessoas usando uma das ciclovias de Bogotá

Bogotá acumula indicadores positivos; dentre eles o mais significativo foi a redução da taxa de homicídios que encolheu 80% em pouco mais de dez anos. (1993 a 2006)

A transformação da mobilidade urbana e as ciclovias
Uma das políticas desenvolvida por Peñalosa, e apropriada pela cidade, foi a criação de algumas ciclovias permantentes e a conversão de  algumas avenidas aos domingos em espaços de lazer. Tive oportunidade de conhecer duas destas experiências quando visitei a cidade.

Uma delas, uma ciclovia permanente localizada no Parque Simon Bolivar, instalada ao redor de um Parque Biblioteca (que se trata de um grande centro cultural que reúne espaços de biblioteca, cinema, teatro, teatro de arena, entre outros espaços). Visitei a biblioteca e a ciclovia num sábado e pude constatar um uso intenso, incluindo pelotões de ciclistas realizando treinamento num grande grupo que incluía crianças. Já há 340 km de ciclovias permanentes construídas em bogotá. Estima-se que 83 mil pessoas usem o serviço diariamente (35% para deslocar-se a escolas, 31% para o trabalho e 14% para a prática esportiva) – (Fonte C40) .

ciclovias colombianas
Um típico domingo no centro de Bogotá

A outra (que felizmente está sendo copiada por cidades brasileiras) experienciei na área do centro histórico da cidade, conhecida como Candelaria na Zona Centro e que aos domingos e feriados tem sua principal avenida (que percorre locais históricos e políticos da cidade como Congresso, Residência Presidencial, Prefeitura etc.) convertida em um calçadão fechado para carros e aberto para o lazer. O local de tão ocupado precisa receber sinalização de trânsito e policiais para orientar o intenso tráfego de patins, bicicletas e pedestres. A impressão é a de que a cidade inteira aproveita a iniciativa. Nada mais agradável do que caminhar ou pedalar visitando os pontos históricos da sua cidade, alguns dos museus contam com bicicletários para acomodação das bikes. Ao todo, 120 km de vias são fechadas todos os domingos.

Principais resultados da ação: (avaliação realizada entre 2000 e 2004)
– Número de viagens realizadas por bicicletas saiu de 0,2% para 4%
– Número de acidentes fatais por ano com bicicletas caiu de 115 para 77 (mesmo com o aumento das viagens relatadas acima).

O relatório completo desta iniciativa pode ser lido na página do C40 (Climate Leadership Group) .

Sou um entusiasta da iniciativa de ciclovias nas cidades, mas não poderia deixar de fazer uma observação que notei em algumas ciclovias (em Bogotá e São Paulo). Ciclovias são lugares para transporte ou lazer. Quando utilizadas para treinamento de atletas podem provocar conflitos, já que em geral não comportam locais adequados para ultrapassagem e tem muitos pontos de travessia de pedestres. Infelizmente vi mais de uma vez em ciclovias atletas em pelotão ou individualmente reproduzindo práticas dos motoristas de carro contra pedestres ou outros ciclistas.

Informações sobre o autor:

Bruno Langeani
Bacharel em Relações Internacionais pela PUC-SP e Gerente de Planejamento da Secretaria Municipal de Cultura de São Paulo
Atleta de final de semana
Irmão orgulhoso do Rodrigo

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Comentários

4 respostas para “Ciclovias em Bogotá – Uma experiência que deu certo!”

  1. Avatar de Gisele Bertucci
    Gisele Bertucci

    Oi gente! Parabéns pelo artigo, Bruno!
    Rô, eu e a Malu estamos em San Francisco e abobadas com o tanto de gente que usa a bike como meio de transporte! O mais importante que vimos aqui é a educação do motorista, o respeito que os motoristas têm com o ciclista, pois não tem um “mar” de ciclovias, apenas ciclofaixas.
    A integração dos meios de transporte tbm contam muito, os ônibus e os metrôs aceitam bikes, têm diversos estacionamentos espalhados pela cidade para as magrelas, tem sinalização específica nas ruas… e por aí vai… as pessoas vão trabalhar, vão ao cinema, ao teatro, passear com a família, viajar com a família… por alguns instantes eu pensava estar na França!
    Bjo a todos e vamos lutar pelas bikes!

  2. Avatar de Duend Urbano
    Duend Urbano

    Bruno, importante e corajosa a sua opinião sobre a pratica das bikes em treinamento de atletas nas cidades… Não são velódromos, e sua vocação está para o lazer e transporte… Não queremos competir com os autos, assemelhar-mos, mas sim, humanizar o seu compartilhamento e respeito.

  3. Avatar de Natallie Santana
    Natallie Santana

    Olá Bruno,

    Seu artigo é muito interessante, estou escreveno minha monografia de conclusão de Especilização em Direito Público e o tema é sobre ciclovias, gostaria da sua ajuda, penso que a locomoção por meio de bicicletas iguala todos. É um instrumento de cidadania.

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