Artigo de Mateus Manzini
Cada vez temos mais provas no calendário do mountain bike (MTB) nacional. Algumas dicas para essas competições podem fazer grande diferença para seu rendimento numa única prova e em campeonatos inteiros.
Como viu, o assunto que será tratado nesse artigo é o “vácuo”. E por quê? Primeiro vou explicar o porquê de vácuo estar entre aspas: a palavra vácuo designa um ambiente sem praticamente nada; nada visível pelo menos; portanto, ar no vácuo, nem pensar. Então, o que tem a ver o vácuo sem aspas com esse “vácuo”? Um ciclista sempre se deslocará num lugar em que existe ar – mesmo num velódromo coberto -, portanto estará sujeito a deslocamentos de ar, ventos (no caso do velódromo, o vento não existe). Dessa forma, ao percorrer uma distância, o ciclista terá que abrir um “caminho” pelo ar, como um nadador corta a água. Abrir caminho significa gastar energia. E se houver alguém que abra esse “caminho” no ar para você? Como seria se houvesse um vento de 15km/h vindo em sua direção e logo a sua frente fosse outro ciclista na mesma direção que você? Ele não “abriria um caminho no ar”? A resposta é sim! O nosso “vácuo” é o campo, o lugarprovas com menor resistência ao ar que se forma logo atrás de um ciclista que se desloca.
Vácuo no MTB XCO
Estamos bem acostumados a ver provas de ciclismo de estrada com os atletas todos enfileirados. No MTB é um pouco diferente. É difícil vermos numa prova de Cross Country Olímpico (XCO) um pelotão extremamente agrupado, em que um consiga aproveitar o “vácuo” do outro. Os pelotões até existem, mas o “vácuo” é pouco usado, pois as velocidades são mais baixas nessa modalidade, e muitas vezes ficar colado no competidor da frente significa correr o risco de não enxergar a trilha e levar um grande tombo. No entanto, andar próximo a um ciclista nessas provas muitas vezes traz outros benefícios.
Sabe quando você alinha para uma largada de MTB XCO e já tem em sua cabeça quais são as pessoas que andam muito à sua frente, um pouco à sua frente, junto com você e atrás de você? Pois bem, nesse caso você pode utilizar de uma estratégia que chamarei de “vácuo visual”. Mas o que é o “vácuo visual”? O vácuo visual seria como um campo gravitacional que o competidor à sua frente criaria para você. Uau! Você deve achar que estou ficando louco, agora! Pois é, mais um termo da Física. Por quê “campo gravitacional”? Na física de Newton, Campo Gravitacional é o campo de força de atração que um corpo exerce sobre outro. Nesse “vácuo visual” que criei aqui, campo gravitacional é relativo às forças que lhe fazem andar mais rápido quando está com alguém logo à sua frente e que tem uma performance relativamente maior que você naquele momento.
Vantagens do “vácuo visual”:
- andar mais rápido, claro!
- superar deficiências técnicas quando obrigado a andar mais rápido em lugares que não tem tanta habilidade para superar,
- analisar os pontos positivos e negativos do competidor que está junto com você,
- tomar consciência de que não estava andando em seu limite sem a referência de alguém à sua frente,
- saber o momento oportuno de fazer o máximo de força para deixar para trás o seu concorrente direto. De uma forma geral, esse “vácuo visual” lhe atrai para o ciclista à sua frente, obviamente diminuindo seu tempo de prova.
Vácuo no MTB Maratona
Nessa modalidade do mountain bike, “andar na roda de alguém” (outro termo para vácuo) tem suas vantagens também ligadas à diminuição da resistência do ar. No MTB Maratona, a maior parte das provas dá preferência a percursos em estradas largas de terra, com menos trechos técnicos quando comparados proporcionalmente aos existentes numa prova de MTB XCO. Essa característica dessa modalidade permite que os ciclistas andem em velocidades maiores, tornando assim o ar uma barreira para ser quebrada, pois quanto maior a velocidade maior se torna a resistência do ar: segundo Too (1990), acima de 29Km/h o ciclista usa 80% de suas forças para quebrar a resistência do ar. Portanto, aproveitar o vácuo de outros competidores lhe fará, sem dúvida, poupar energia.
Algumas dicas para usar e criar vácuo
Criar vácuo
- Nunca, mas nunca, mesmo, percebendo que há alguém em seu vácuo, desvie abruptamente de uma pedra ou qualquer outro obstáculo que ponha em risco a integridade da bicicleta ou do ciclista de trás. Essa seria uma maneira desonesta de ter vantagem sobre os demais competidores.
- Você pode serpentear à frente dos outros ciclistas para desencorajá-los de usar seu vácuo, mas isso tem que ser feito de maneira cuidadosa.
- Peça para os demais mountain bikers “puxarem” a fila também. Se num bloco de cinco ciclistas houver um revezamento de quem puxa a fila, esses ciclistas poderão abrir um tempo maior em relação aos demais competidores que vêm atrás.
Usar vácuo
- Fique o mais próximo possível do ciclista à sua frente quando o terreno tiver poucas pedras.
- Perceba qual é a posição do vento. Nem sempre ele está vindo pela frente. Se estiver vindo pela sua esquerda, fique mais à direita do ciclista que está à frente e com a bicicleta ultrapassando a linha do pneu traseiro dele indo até o ponto que você achar que está mais escondido do vento.
- Não toque o pneu do ciclista da frente! Você será o maior prejudicado. A roda dianteira é um ponto instável da bicicleta, pois seu centro de massa está na maioria das vezes mais deslocado para a parte traseira da bicicleta, além da roda dianteira ter mobilidade de no mínimo 180 graus.
- Ao estar num trecho em que perceba que a bicicleta está quase andando sozinha atrás do outro ciclista, sem você fazer força, não deixe de pedalar. Se você tiver uma cadância muito alta, diminua ela bem, a ponto de só empurrar o pedal, isso ajuda a descansar as pernas, pois ativa os músculos numa frequência diferente da usada majoritariamente, produzindo um “efeito massagem” em seus músculos. Parar de pedalar, por outro lado, pode fazer com que suas pernas tenham a circulação diminuída, o que faz com que seus músculos recebam menos sangue e dessa forma acumulem resíduos metabólicos prejudiciais às contrações musculares.
Bons treinos!
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