Entre Tanger e Chefchaouen as principais opções de transporte são: táxi e ônibus. Localizada nas montanhas, não possui linha de trem e apesar da distância ser pequena, o tempo de viagem é longo: entre 5 e 7 horas (dependendo do tráfico, da chuva…). O ônibus que eu fiz essa viagem era de qualidade aceitável e a melhor forma de comprar a passagem é ir alguns dias antes na estação rodoviária e verificar as companhias, preços e horários. O valor é baixo (7 dólares) e a distância para as pernas reduzido (para mim que tenho apenas 1,76m estava no limite…). Com sorte, você terá um bom livro ou uma companhia ao seu lado que pelo menos não te incomode.
Veja no meu site esse quadro lindo da medina de Essaouira!
Chefchouen é conhecida também como a cidade azul por ter suas casas antigas com essa cor. Você irá notar uma diferença muito grande com Tanger pelo tamanho reduzido e por estar encravada na montanha. Para mim, a primeira dificuldade foi ter que carregar a minha mala de rodinhas morro acima, com centenas de escadas (eu tenho uma mochila com o laptop e a minha câmera e por ter hérnia de disco na lombar, prefiro usar a mala principal com rodas para não me forçar tanto). De qualquer forma o caminho até o meu hostel foi agradável, pois o que não falta são lojas de artesanato que irão te distrair o suficiente. Como tinha me perdido entre tantas vielas sem nenhuma sinalização, liguei para o meu hostel e em menos de 2 minutos uma pessoa veio me encontrar e me ajudou com a mala.
Diferente de Tanger, o hostel aqui foi bem ruim. Metade das casas da cidade estavam em reforma da fachada (reboco e pintura) e você poderá imaginar a poeira. O meu hostel estava nesse grupo e o meu quarto de frente para a andaime de construção e era do tamanho de um banheiro minúsculo. O hostel (como a maioria) foi adaptado a uma pequena antiga casa e onde menos se imagina, você irá encontrar um banheiro. Tudo bem, seria somente uma noite e foi menos de 10 dólares.
Já a cidade, que lindinha!! Casinhas pequenas e de todos os tamanhos e formas com o estilo árabe predominante. Na parte central da cidade antiga, você irá encontrar uma pequena fortaleza que hoje virou um museu (acho que foi 1 ou 2 dólares para entrar) e a torre principal irá te proporcionar uma visão única de todo o lugar e irá entender melhor por que o apelido de cidade azul. Na torre principal, existe uma exposição fotográfica de fatos históricos e uma que me chamou muito a atenção: o papel das mulheres no desenvolvimento do país (quem iria imaginar que num país onde o machismo é grande, um lugar público iria homenagear as mulheres que fizeram história!).
Bora jantar? Ao redor da fortaleza, alguns edifícios antigos possuem restaurantes na cobertura com diversas opções de preços e cozinhas. Achei o nome Casa Alladin sugestivo e resolvi testar. Todo decorado como se fosse o cenário de um filme de criança, e uma vista linda para a praça central, pude finalmente pedir um cuscus (não tinha entendido bem, mas em Tanger o cuscus é um prato especial e só servido às sexta-feiras). E quem vai ao Marrocos, não pode perder esse prato tradicional! Você pode escolher entre vegetariano ou com carne (alguns tipos possíveis). Acho que já deu para perceber que eu adoro comida né!? Hehehehe E esse país já tinha ganhado o meu coração! Que tempero bão demais da conta (como se diz lá em Goiás!!)!!!
Numa viagem desse tipo, em que eu irei levar um bom tempo sem retornar pra casa, é imprescindível ter uma mala leve com o básico. Isso significa comprar o mínimo possível e somente o essencial. Então, aqui não foi diferente: tentado com tanto artesanato lindo, entrava nas lojinhas, ficava babando em algumas coisas, admirava e ia embora. Isso consistiu em parte do meu tempo, caminhando para conhecer a cidade. Outra parte era ler em algum café ou restaurante. Com o meu curso de yoga daqui alguns meses, tenho uma lista farta de leitura (nesse momento estou lendo dois livros: o primeiro é Light on Life The Yoga Journey to Wholeness, Inner Peace, and Ultimate Freedom (B.K.S. Iyengar) e o segundo é Crime e Castigo (Dostoyevsky). Esse último está relacionado com a minha passagem em breve pela Rússia e foi um livro que eu comecei a anos atrás e nunca tinha terminado (interessante que alguns momentos da nossa vida, você começa a ler algum livro e acha extremamente chato… passa um tempo, você abre novamente e bum!! Conecta num instante!).
Com um tempo limitado e um itinerário ambicioso, a minha estadia em Chefchaouen foi curta (um dia e uma noite). Daqui eu peguei outro ônibus para ir até Fes. Apesar da distância ser maior, o tempo foi quase o mesmo, pois no meio do caminho as estradas são mais planas e permitem um trajeto mais rápido. O ônibus também foi um pouco mais confortável que o primeiro e tinha mais turistas que pude conversar e pegar algumas dicas.
Cheguei em Fes para ficar duas noites e acho que foi pouco. Porém quis gastar mais tempo numa das praias mais ao sul menos turística e menos povoada para descansar e recarregar a bateria. O meu hostel em Fes foi bastante melhor do que o de Chefchauen em termos de tamanho e organização, e a limpeza do quarto estava o suficiente para mim. Geralmente os hostels/hotéis que ficam dentro das Medinas informam qual das entradas fica mais próxima e pedem que você ligue para eles ao chegar na entrada e enviam alguém para te ajudar a encontrar o caminho. Fiz isso e foi muito tranquilo (não é perigoso, especialmente durante o dia, mas são tantas vielas, com tanta gente, que fica realmente mais complicado achar o seu caminho, durante um dia quente e com malas para carregar).
Pedi informações sobre a região o que fazer, onde comer, o que evitar (essa parte é muito interessante como cada lugar e cada pessoa tem a sua visão sobre os cuidados que o turista deve ter!). Peguei meu celular com o meu mapa (o aplicativo Here Maps que você acha para instalar grátis, possui os mapas offline do mundo inteiro e funcionam sem a necessidade de internet ou sinal de telefone e a qualidade é impressionante!), um pouco de dinheiro (eu quase nunca ando com o meu passaporte e deixo trancado dentro do hotel) e bora aproveitar as horas de sol que ainda tenho.
Para quem gosta de cozinhar (como eu) ou apenas comer (eu tb!! hehehe) andar pelos becos das Medinas no Marrocos é uma tentação! Os cheiros, os sabores, as cores das especiarias… ahhh Eu passava e só ficava imaginando, como foi feito cada prato ou pensando como ficaria gostoso, esses ingredientes com essa combinação… Preciso de uma cozinha urgente para fazer umas experiências!! Fes é uma cidade grande, e consequentemente tem uma Medina muito maior do que as cidades que eu já tinha visitado até agora. Dentro dessa muralha, você irá encontrar de tudo!! Restaurantes, hotéis, artesanato, bares, lojas de eletrônicos, alfaiates, barbearias, mercearias… Lembra do mercado central de São Paulo!? Agora multiplica por 10 vezes o número de lojas numa área do tamanho de um bairro médio!
Foi numa dessas vielas, que tive uma agradável surpresa! Estou eu, zigzagueando sem pressa nenhuma, quando sou hipnotizado por um som IRADO!!! Para quem chegou agora talvez não saiba que a música é o elemento mais importante na minha vida e a dança a sua forma de materializar o abstrato!! Parei por alguns segundos e tentei identificar de onde vinha esse som lindo: uma mistura de John Coltrane com música árabe!!! Após um solo irado do que parecia um saxofone, olho para cima em busca de resposta e pimba, achei o lugar que parecia ter caído do céu! No primeiro piso, um restaurante comum apenas com pessoas locais. Perguntei sobre a música e me indicaram para continuar subindo. Chego no lugar super pequeno, onde 6 ou 7 músicos estão brincando num improviso lindo! Um branquelo (que parecia não ser marroquino) tocando saxofone e os demais com traços árabes, nos demais instrumentos. Fiquei ali na entrada parado por uns 20 min para não atrapalhar todos que assistiam (parecia mais um mini teatro, onde toda a atenção estava voltada para a banda). Infelizmente, foram os momentos finais da música ao vivo… Subi mais um andar e estava na cobertura, com uma vista de parte da Medina.
Por sorte, parte dos músicos e dos turistas também subiram e foi aí que a noite começou! O saxofonista grego, e os músicos de várias cidades do Marrocos, se juntaram a uma mesa ao meu lado esquerdo. Uma russa e um casal de canadenses na mesa do lado direito! Pedi um prato que se chama tagine (vou tentar traduzir e se cometer algum erro, me perdoem) que no brasil seria chamado de cozido (você pode fazer carne/peixe/frango/vegetariano) com um monte de vegetais e um molho super tradicional com curry e outras hervas! O casal canadense e a russa olharam meu prato, eu brinquei que teriam que pagar para olhar e daí por diante, viramos uma mesa só!
Os músicos em menos de meia hora já estavam do nosso lado tocando sem amplificador e com ajuda dos turistas para cantar algumas canções. O Marrocos é proibido beber álcool em público, mas muitos fumam maconha como se fosse cigarro! Quem tinha, já estava nessa hora fazendo o seu e/oferecendo para os vizinhos. A temperatura de dia estava por volta dos 28 graus e a noite baixou para 20. Os garçons ofereceram uma espécie de cobertor e fomos até a hora que a música podia ser feita (restrição dura sobre ruído após as 22h…). Ficamos mais algum tempo ali até a hora que lembrei que o dia seguinte tinha que levantar cedo, fazer a mala e pegar o trem para Rabat!
Boa noite então! Nos vemos na capital do Marrocos em poucas horas!! 🙂
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