A pedalada de Lance Armstrong

Até recentemente  apenas tínhamos uma vaga idéia de como Lance Armstrong (que agora virou triatleta) pedalava porque existia apenas um artigo de 2005 com dados a respeito do campeão. Tudo o que sabíamos era que ele pedalava numa cadência mais alta que a maioria dos outros ciclistas. De um modo geral os estudos publicados nos mostram que pedalar na mesma faixa de cadência utilizada por Lance, é menos eficiente que pedalar em cadências mais baixas. O que faz então com que Lance consiga pedalar na velocidade e com a eficiência com que ele o faz além de andar muito de bicicleta? Um estudo recente publicado no site da Carmichael Training Systems discute o que ele fez além do seu treino normal para atingir os resultados que atingiu.

Há 15 anos a maioria das bikes de speed tinha 14 marchas, era de cromoly, pesava em média 11kg e era construída com tubos tubulares. Hoje as bikes pesam menos de 8,5kg tem 20 marchas, são confeccionadas de alumínio eou carbono e são usados tubos aerodinâmicos hidroformados. A tecnologia trouxe muita inovação e melhorias na criação das bicicletas e no treinamento esportivo.

Todo ciclista pesquisa, compara e lê sobre qual roda é mais leve, qual o melhor grupo, que relação deve usar. Mas a minoria se preocupa em saber a respeito das novas tendências relacionadas a melhora do treinamento do ciclista, ninguém se preocupa em aprender a usar o seu frequencímetro de maneira correta, se preocupa em procurar um técnico…

Lance e sua equipe sempre se preocuparam em tentar fazer diferente e obter qualquer vantagem possível através da utilização de novos equipamentos inovações no treinamento e escolha da estratégia correta. O artigo publicado no site de seu treinador tráz informações preciosíssimas a respeito de como, ao longo dos ano, Lance mudou sua pedalada.

Lance teve sua pedalada analisada pela primeira vez em 1993. Na época os frequencímetros estavam começando a surgir no mercado e não eram todos os ciclistas que o utilizavam. Em 1993, Lance já usava a frequência cardíaca em seus treinos, o que não difere muito do que hoje a maioria dos amadores utiliza em seus treinos. Na época não existiam ferramentas para a analise biomecânica precisa da pedalada. Então os treinadores de Lance desenvolveram um sistema que acoplado nos pedais permitia quantificar as forças exercidas pelo ciclista em todas as direções durante a pedalada.

lance armstrong power
Gráfico que ilustra a magnitude das forças durante a pedalada de Lance Armstrong

O que na época se descobriu é que a maioria da força era gerada na fase da extensão do joelho na pedalada. E que Lance quase não produzia força na fase de baixo e na puxada da pedalada (flexão de joelho e flexão de quadril).

potencia da pedalada de lance armstrong
Potência produzida em cada pedalada de Lance

É sabido que ciclistas pedalam da mesma forma há anos. As pessoas costumam pensar que “todo mundo faz assim” então é difícil de mudar. Mas, Armstrong e sua equipe, naquela época não estavam contentes com o que “todo mundo” vinha fazendo e mesmo embora ele fosse muito bom – sendo o então campeão mundial de ciclismo – ele queria mais. Lance, Chris Carmichael e sua equipe de cientistas sentiam que poderiam melhorar diversas partes de sua pedalada para melhorar sua produção de força. E como Lance já era o melhor do mundo na época seria muito difícil para ele conquistar alguma melhora pois ele já estava no topo. Mas sua equipe o testou e conseguiu enxergar sua deficiência e acharam que se ele conseguisse alguns poucos watts de melhora na parte de baixo e na parte da puxada de sua pedalada, Lance poderia obter uma melhora significativa no seu rendimento. Dessa forma seu treinamento foi voltado para aumentar a produção de força na parte de baixo da pedalada e tentar minimizar as forças negativas na parte da puxada da pedalada.

E segundo Carmichael foram essas mudanças no estilo de pedalada de Lance que possibilitaram que ele conseguisse gerar uma alta potência utilizando cadências altas. “Aumentar a cadência de pedalada parece simples, mas isso leva anos para se aperfeiçoar. Mudar a cadência que um ciclista normalmente usa requere uma adaptação neuromuscular”- afirma Carmichael, em outras palavras é necessário adaptar o sistema nervoso e os músculos.

As adaptações que levaram ao aumento da cadência confortável empregada por Lance de 85rpm em 1993 para 105rpm em 1999-2005 foram as seguintes:

  • Um padrão neural de recrutamento muscular mais eficiente.
  • Uma melhora na sincronização das unidades motoras empregadas no movimento.
  • Uma diminuição dos reflexos neurais de inibição.

No gráfico abaixo podemos enxergar o exato ponto onde a produção de força na pedalada cai abaixo de zero, e nesse exato momento a perna deixa de produzir força e “atrapalha” a produção de força produzida pela outra perna.

Em resumo grande parte das adaptações citadas acima se referem a habilidade de levantar a perna durante a pedalada e não atrapalhar a produção de força da outra perna. E foi exatamente isso que permitiu que Lance passasse a utilizar confortavelmente uma cadência mais alta de pedaladas. Segundo o artigo “Improved muscular efficiency displayed as Tour de France champion matures.” tais adaptações trouxeram uma melhora de economia na ordem de 8% a Armstrong, o que é um valor extremamente significativo se tratando de um atleta de Elite, em outras palavras o que tornou Lance tão dominante na época não foi só o aumento da sua capacidade de gerar força nas pedaladas e sim que ele tornou-se capaz de utilizar sua energia de forma mais eficiente distribuindo sua força ao longo de toda a pedalada.

O que essas informações trazem de novo?

  • A velha máxima “o que vale não é treinar mais forte e sim de forma mais eficiente” se aplica muito aqui. Tente sempre pensar fora do senso comum e experimentar novas técnicas relacionadas ao treinamento esportivo.
  • Dê ênfase na técnica! Os velhos educativos de pedalar numa perna só se executados corretamente e com regularidade podem trazer um aumento de economia considerável a sua pedalada aumentando assim sua eficiência na bike.
  • E uma novidade para os triatletas, passar a pedalar de forma mais “redonda” pode desenvolver os músculos posteriores de coxa e os flexores de quadril. Esses músculos são muito utilizados na corrida e alguns estudos sugerem que a melhora na técnica de pedalada traz não só melhora no desempenho do ciclismo mas afeta positivamente o seu rendimento na corrida.

(Confira também Ciclismo e dor nas costas)

Gostou de nossos artigos e quer recebê-los por email? É só clicar aqui!

Você pode também seguir nosso perfil no Twitter!

O Espírito Outdoor apoia o esporte e se mantém com os anúncios de produtos no site. Se você comprar algo dos links do site estará contribuindo para mantermos o nosso trabalho. Obrigado!


Publicado

em

, ,

por

Comentários

11 respostas para “A pedalada de Lance Armstrong”

  1. […] no calendário te permite treinar mais e ter mais foco na sua preparação. Essa foi a tática de Lance Armstrong para alcançar todas as suas vitórias no Tour de France, seu foco era o Tour, e durante a […]

  2. Avatar de Augusto
    Augusto

    Muito bom este artigo!!!!

    Parabéns!

  3. […] Você sabe o seu peso ideal para competir? […]

  4. Avatar de Roberto Smera

    O sucesso de Armstrong deve-se a sua ligação com o famoso Dr. Michele Ferrari, que conseguiu através de um programa altamente eficiente de doping, transformá-lo de ciclista ordinário a um atleta apto. a vencer Grand Tours.

  5. Avatar de Rodrigo
    Rodrigo

    …qndo não se consegue um desempenho desejável e outros que treinam e conseguem a atingir a vitória…fica fácil aos acomodados ou incomodados dar as desculpas nos “dopings”…bons treinos…gostei do artigo! Parabéns.

  6. […] impossível não comparar a visibilidade do ciclismo, antes e depois de Lance Armstrong. Depois do surgimento de Lance Armstrong muitas pessoas se sentiram inspiradas por sua história e […]

  7. […] competitores. Em segundo lugar ficou Nino Schurter e em terceiro o frânces Julien Absalon (o Lance Armstrong do MTB). “A prova foi difícil porque começou a chover no meio do competição e o percurso […]

  8. […] escaladoras de destaque tem valores na faixa de 0,32kgcm. É claro que existem exceções como o Lance Armstrong que tem o,38kg/cm e consegue superar a sua desvantagem de peso com uma incrível capacidade de […]

  9. Avatar de Alberto Guerra

    Então é só usar uma substância dopante e deitar no sofá?
    As drogas podem aumentar a performance, mas sem treinamento de técnica, força, resistência, etc.
    Vamos parar com essa de escolher o Lance pra Judas do ciclismo. Depois do banimento dele, a UCI ainda flagra vários na mesma situação.
    É muito dinheiro envolvido, e os atletas infelizmente enveredam neste caminho, em muitos outros esportes olímpicos.

    1. Avatar de Rodrigo Langeani

      Alberto, concordo contigo que sem treino, não tem jeito. Mas sou contra o doping. Minha postura é sempre foi de competir limpo, e como treinador prefiro não treinar atletas que se dopam. Simples assim.
      O problema do Lance não foi apenas o doping, ele está sendo processado por comandar o maior esquema de doping da história mundial usando dinheiro público (dos EUA), no processo além do doping tem ameaças de morte, intimidação e processos de pessoas que ameaçaram sua posição.

  10. Avatar de Adilson José Caetano
    Adilson José Caetano

    Lance é meu herói no ciclismo!! Que venha os mi mi mi kkk

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *