Esse artigo é uma republicação de uma rtigo que escrevi para o Vigorelli`s Blog, que foi desativado nesse ano. Resolvi publicar o artigo aqui para dar os leitores que ainda não tinham lido. Divirtam-se!
Na minha opinião o ciclismo é um dos esportes que mais recebe influencia do equipamento. E são muitos fatores a considerar, tamanho da bicicleta, roda escolhida, pneu, calibragem do pneu, relação, peso da bike…Um equipamento que tem gerado infinitas discussões é a influência do tamanho do pedivela sobre a performance no ciclismo em todas as suas modalidades.
O que traz tanta atenção aos pedivelas talvez seja o fato de o pedivela ser o componente mecânico para transferir a força gerada pelos músculos durante a pedalada. Muitos modelos matemáticos tem sido propostos para tentar determinar o comprimento ideal de pedivela para o ciclista.
Nesse artigo pretendo expor minha opinião e reunir informações preciosas para que o ciclista possa escolher o pedivela ideal e melhorar seus resultados no contra-relógio, nas provas de criterium (antes chamadas de australianas) e nas provas de pista. Tentarei discutir as considerações do ponto de vista biomecânico sem considerar fatores como o condicionamento físico, tipo de fibra muscular altura do ciclista.
Muitos estudos tem sido feitos olhando diversos aspectos do pedivela: dados antropométricos e comprimento do pedivela, comprimento do pedivela e economia de movimento, comprimento do pedivela e produção de potência máxima, tamanho do pedivela e sua influência na bicicleta, influência do pedivela na cadência adotada.
Uma revisão publicada recentemente reuniu os artigos mais relevantes sobre o assunto e deu o seu veredito: não existe ainda uma fórmula definitiva para o cálculo do tamanho do pedivela e a escolha do tamanho do pedivela depende da modalidade escolhida (MTB, provas de pista, criterium, provas longas….). O autor do trabalho sugere que são necessários mais estudos para esclarecer o assunto.
Então estamos perdidos?
Não, não é isso. Apesar dos estudos não serem totalmente conclusivos podemos observar algumas coisas:
Tamanho do pedivela e cadência: Parece haver uma relação inversa entre o tamanho do pedivela e a cadência produzida durante a pedalada. Em outras palavras, quanto maior o tamanho do pedivela, menor a cadência gerada, ou quanto menor o pedivela maior a cadência produzida pelo ciclistas.
Tamanho do pedivela e vantagem mecânica:
É muito comum relatos de mountain bikers e contra-relogistas que usam pedivelas grandes. Miguel Indurain era famoso por usar pedivelas de 180mm nos contra-relógios e etapas de montanha. E de fato um pedivela maior confere uma alavanca de força maior e como consequência uma maior produção de força se não considerarmos as alterações de posicionamento decorrentes da mudança do tamanho do braço da pedivela.
Aumentar o tamanho do pedivela em 2,5mm implica em diminuir o seu selim em 2,5mm para manter o mesmo ângulo de extensão do joelho. Mas com isso surgem algumas considerações: (1) o eixo do pedal está agora 5mm mais próximo do seu tronco (2,5mm por abaixar a altura do selim e 2,5mm pelo pedivela mais comprido no topo da pedalada) e (2) para cada incremento no tamanho do pedivela você incrementa em dobro a extensão do joelho o que fazer com que o joelho trabalhe em ângulos mais extremos podendo acarretar em uma lesão e com uma amplitude maior de movimento pode fazer com que os músculos da perna trabalhem fora da zona de comprimento ótimo de produção de força.
Nossos músculos trabalham numa relação ótima de comprimento e tensão para a produção de força. Quando estão muito alongados ou muito contraídos têm sua produção de força máxima prejudicada. Esse mecanismo ilustra porque, por exemplo, conseguimos levantar mais carga no movimento de meio agachamento do que num agachamento completo.
No contra-relógio a aerodinâmica é muito importante para o resultado final da prova. Na busca por maximizar os ganhos aerodinâmicos muitos ciclistas adotam posições muito agressivas e com isso sacrificam sua produção de força. Ao baixar a frente da bicicleta para ficar mais aerodinâmico o ciclista pode posicionar-se de maneira a tirar os seus músculos da zona ótima de comprimento e tensão para a produção de força.
Provas de pista ou de criterium são mais parecidos com os contra-relógios do que com as provas de estrada. Segurando na parte de baixo do guidão e pedalando forte para aguentar as muitas fugas faz com que o ciclista adote uma posição similar do que no contra-relógio, só que sem o clip.
No Bike Fit, um ângulo muito importante de ser determinado é o “acute hip angle” ou o ângulo formado entre sua coxa e o tronco (trocanter maior, centro do joelho e acrômio) quando o pedal encontra-se no ponto mais próximo do seu tronco. Dependendo das suas características físicas (tamanho do fêmur, tíbia e relação pernas/tronco) esse ângulo estará entre 46 e 52º. Nessas provas aumentar o pedivela pode representar uma diminuição desse ângulo e para que ele seja mantido seria necessário subir a frente da bicicleta o que traria perdas consideráveis na aerodinâmica para essas provas.
Outro ponto que vale considerar é que as cadências médias nas provas de contra-relógio, criterium e pista tem aumentado ao longo dos anos. Desde 1960, todos os recordes da hora (muito disputados no Vigorelli no pássado) foram quebrados com cadências acima de 100rpm (cadência alta).
Conversei (por email) no ano passado com Jöel Steve, técnico da equipe de ciclismo francesa Agritubel (que conseguiu manter a camisa amarela no Tour de France por duas etapas em 2009) ele afirmou que “se eu não puder testar o atleta para recomendar o pedivela ideal. Sempre irei recomendar 170 ou 172,5 ao invés de 175mm”.
Então se você achava que o pedivela de sua bicicleta de contra-relógio ou de pista seria maior do que o da sua bike de estrada, talvez esteja errado. Considere o uso de pedivelas menores que favoreceriam a manutenção de cadências mais elevadas o que parece ser fundamental para o sucesso nessas provas.
Bons treinos!
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Referências:
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