Aos 20 anos casei… Com alguém de 23… Que aos 24 me deu uma pulseira de ouro. Quem sabe, a primeira de outras possíveis jóias. Mas, meu coração cigano me fez pedir-lhe que não repetisse a façanha, que poupássemos esse dinheirinho suado para possíveis aventuras de viagem. Assim, aos 24 eu e 27 ele, fizemos nossa primeira e inesquecível viagem de mochileiros na Europa. Ele, com uma bolsa de estudos do governo espanhol; eu, com um desejo imenso de acumular vivências e emoções e não joias no cofre que não tínhamos. E, depois dessa, nunca mais paramos. De colônias de férias a hotéis cinco estrelas, já conhecemos de tudo. De Budapeste a Puerto Vallarta, também… E assim, a vida foi-se construindo com tintas mais coloridas, permitindo uma alma mais feliz por estar sempre voltando de uma viagem ou planejando outra.
E aí pergunto: e você, gosta de viajar? Para quê você viaja? Como são suas viagens? De trabalho? Lazer? Provas e competições?
Se pararmos para pensar, veremos, com facilidade, que o ato de viajar sempre fez parte da vida humana, e também que, nos seus primórdios, o ser humano era nômade, sempre em busca de melhores condições de sobrevivência. Apesar de não precisarmos mais disso, pois, bem ou mal, conseguimos sobreviver até nos mais inóspitos ambientes da Terra, nunca conseguimos vencer distâncias tão facilmente como agora. E nunca tantos o fizeram em uma velocidade tão grande.
O desenvolvimento da aviação possibilita, hoje, que cada um de nós explore, à exaustão, este planeta, segundo seus gostos e vontades. Assim, quem mora nos países mais desenvolvidos pode, facilmente, realizar seu sonho de conhecer terras exóticas; e os habitantes dos países menos ricos conseguem, embora não tão facilmente, conhecer as “benesses” da vida no primeiro mundo. Mas, guardadas as diferenças e as devidas proporções, atualmente, uma grande parcela da população mundial viaja bastante por lazer e não mais por necessidade de sobrevivência, como nas eras ancestrais.
Pelo menos é o que nos dizem as estatísticas, e o que podemos constatar, facilmente, ao entrar em um aeroporto lotado ou até mesmo ao comprar passagens aéreas para diazinhos de férias. Sempre parece que o mundo inteiro está viajando!
Mas, para cada viajante, uma viagem. Seja por terra, mar ou ar, cada um pode, hoje, escolher aquela que mais lhe toca o coração ou lhe fala à alma. Você não gosta de imprevistos? Estão aí as agências de turismo a acenar com pacotes de minutos contados e dias planejados. Quer organizar sua viagem sozinho? Há inúmeros sites de busca, do tipo booking e tripadvisor, que indicam desde o mais luxuoso até o mais simples dos hotéis, pousadas e também imóveis para alugar. Gosta de aventuras? De surpresas? Pode se aventurar, mochila nas costas ou não, por uma bela e agradável “adventure trip”… Não tem muito dinheiro e gosta de fazer novos amigos? Há os albergues, os queridinhos dos mais jovens; o “coach surfing”, que oferece sofás em casas de desconhecidos solícitos, prontos para recebê-lo por um simples sorriso e um comportamento gentil. Existem, também, os sites de troca de casas, em que você oferece sua casa, enquanto se hospeda na casa do seu hóspede. Bom, não? E, no meio de toda essa oferta, vale lembrar que as pesquisas comprovam que viajar deixa as pessoas mais felizes do que bens materiais.
Mas, se mesmo depois de todas estas sugestões de maneiras de viajar, você ainda me responder que prefere não viajar, posso sugerir que faça, então, pequenas viagens dentro de sua cidade, ou até mesmo dentro de seu bairro. Sim, porque, o que geralmente acontece quando viajamos e que faz com que tudo pareça mágico , é que passamos enxergar a realidade ao nosso redor com “outros olhos”, com mais liberdade, sem “aquela velha opinião formada sobre tudo”.
Viajando, apreciamos situações ou paisagens que, na correria de nossas rotinas, não chamam nossa atenção. Por isso, é importante nos permitirmos “excursões” dentro de nossa cidade, para apreciá-la com olhos de viajante, com olhos novos, de quem descobre novos ângulos e novo sentido em tudo o que vê.
Seja no parque ou na catedral de sua cidade, seja na praça do seu bairro ou na Piazza Navona, você tem de descobrir qual o tipo de viajante você é e o que busca em suas viagens, principalmente nesta que você está pensando em fazer há tanto tempo. (Se é que em suas veias corre o sangue vermelho vivo de quem adora viajar e colorir a vida com cores vibrantes e novas.) Mas, se nada disso o apetecer, não se preocupe. Há uma teoria de que “viajar está nos genes”, ou seja, essa sua aparente “preguiça” de pegar a estrada já nasceu junto com você, veio no seu DNA. Então, se não tiver esse “gene da viagem longa” dentro de você, “viaje”em sua própria cidade ou bairro, e seja feliz.
Se e quando se animar a viajar, lembre-se de que não importa para “onde” você vai, mas sim, “como”… Importa o quanto você está aberto a novas experiências. Importa o quanto seus olhos estão abertos para as coisas mais simples, aquelas que estão adormecidas, esperando ser descobertas: um jardim florido; o por do sol alaranjado; uma noite estrelada; o sino da igreja chamando a todos; o pássaro alçando voos inesperados, num desenho perfeito; a praça repleta de crianças e idosos, misturados num alfa e ômega infinito…
Já que o “como” é mais importante do que o “onde”, podemos pensar, como já o fizeram vários filósofos, sobre a diferença entre ser turista e ser viajante (ou peregrino): o turista é aquele para quem o importante é ostentar um passaporte muito carimbado; um Facebook ou Instagram carregados de “selfies” feitos em diferentes lugares do mundo. Ou seja, para um turista, importa muito mais o “parecer” ou “aparecer” do que o “ser”.
Ao contrário, o viajante ou peregrino leva sempre consigo um desejo imenso de aprender com novos lugares ou pessoas, de buscar neles aquilo que pensa poder estar faltando em sua vida. Mesmo que seja para concluir, o que acontece muito, que não está faltando nada.
O turista está fechado em suas pré concepções e roteiros, o viajante ou peregrino está aberto para o novo ou diferente. O turista está preocupado em ostentar tudo o que viu ou comprou em suas viagens; o viajante ou peregrino está ocupado em ir leve e voltar mais leve ainda, trazendo apenas o coração mais pleno de alegria e amor à vida. E aqui, a peregrinação não indica apenas a viagem com intuito religioso, mas todas aquelas que visam a algo de extrema importância para você: realizar uma maratona ou prova; conhecer um museu do esporte ou de arte; escalar uma montanha… E, entre essas duas opções, fui cada vez mais, me transformando numa verdadeira viajante. Dormir em uma cama king size de um excelente hotel é maravilhoso, mas dormir no chão de um mosteiro, ouvindo os sinos e cânticos das monjas pode ser mais maravilhoso ainda. Ou num cantinho à beira mar. Descobri e vivo isso, sempre em busca de peregrinações que me tragam essência e não aparência. Sempre em busca da alegria das coisas simples e belas, das companhias queridas, das paisagens interiores que se harmonizam com as exteriores. Sempre em busca da verdade. Dos momentos e lugares em que “menos é mais”.
Simples pensar, também, que a viagem pode ser vista como uma metáfora para a vida: somos todos viajantes na Terra, e aqui, não importa onde estamos, mas sim como estamos. E essa grande viagem de nossa vida só ganha cor se tivermos olhos novos para ver a mesmice de nossos dias se colorirem alegremente. Cada minuto de uma cor, porque cada um foi pintado sob uma perspectiva nova, com uma incidência de luz diferente…
E aí, seja para Paris, para a praça mais próxima ou até mesmo para o quintal de sua casa, bora viajar? Pode ser que, como eu, você não consiga colecionar joias, carros ou roupas; mas também, como eu, pode ser que fique para sempre viciado na feliz endorfina liberada com o simples planejamento de sua próxima viagem…
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