Todos nós sabemos que o exercício pode reduzir (e muito) o risco de sofrermos de doenças como o diabetes, ou que o exercício é parte importante de conseguir uma vida mais saudável. O que não se sabia é como esses genes respondiam ao exercício
Como o Projeto Genoma Humano, começado no século passado, os cientistas esperavam descobrir com o conhecimento dos genes, o que na época se achava que iria proporcionar o entendimento do funcionamento total dos seres humanos. Mas ao longo do projeto, eles perceberam que somente o conhecimento dos genes não era suficiente para explicar como os genes funcionam, e assim entender todos os mecanismos do organismo.
É o conhecimento do epigenoma, uma parte externa dos genes, que permite entender como os genes reagem às mudanças no ambiente. Já que o epigenoma “liga ou desliga” os genes, aumentando a sua atividade.
Quando os genes ligam eles expressam proteínas que causam respostas fisiológicas em outros lugares no corpo. O que a muito tempo se tenta estudar é como o exercício interfere na resposta genética. E o conhecimento do epigenoma, trouxe respostas de como o exercício altera os genes, ou o epigene, essa parte externa dos genes.
As mudanças Epigenéticas ocorrem na parte de fora dos genes através de um processo chamado metilação. Na metilação, partículas pequenas dos átomos chamadas de grupo metil, se ligam à parte externa do gene, igual a um carrapicho gruda em seu tênis quando corremos nas trilhas. Essas ligações fazem com que os genes sejam mais ou menos ativos aos sinais do corpo.
Os cientistas, agora sabem que os padrões de metilação são mudados de acordo com o estilo de vida das pessoas, e isso afeta diretamente as proteínas expressas por esses genes.
Dependendo de como forem essas mudanças, isso pode afetar de forma positiva ou negativa nossas saúde e interferir no risco de sofrermos de algumas doenças.
Da mesma forma que o exercício e a alimentação saudável atuam positivamente, uma dieta pobre ou a exposição a elementos poluentes podem influenciar negativamente nossa saúde negativamente.
Um novo estudo revolucionário
Até então pouco se sabia sobre esse mecanismo mas um novo estudo da Universidade de Karolinska em Estocolmo, trouxe luz a questão. O estudo (referência aqui) recrutou 23 jovens (homens e mulheres), e os avaliou no laboratório a performance esportiva e alguns testes médicos que incluía biopsia muscular.
Após esses testes os voluntários se exercitaram durante 3 meses usando apenas uma das pernas do corpo.
A maior dificuldade, até então nesse tipo de estudo era estudar de forma precisa todas as variáveis que interferiam nos padrões de metilação.
No entanto, nesse estudo como os voluntários se exercitaram usando apenas uma perna, isso permitiu que cada voluntário fosse o seu próprio grupo controle.
Isso fez com que as duas pernas se beneficiassem com as mudanças dos padrões de metilação no organismo, mas apenas a perna que se exercitou apresentou adaptações relativas ao exercício. Uma idéia simples e ao mesmo tempo genial!
Os voluntários pedalaram durante 45min, 4 vezes por semana durante 3 meses. Após esse período todos os testes foram refeitos.
Não foi surpresa nenhuma constatar que a perna exercitada estava mais potente do que a outra perna que não se exercitou, mostrando que o exercício provou melhoras físicas no organismo.
Mas o mais legal foram as mudanças constatadas nas sofisticadas análises genômicas, onde os cientistas puderam detectar mais de 5.000 alterações em algumas regiões dos genes das células coletadas na perna que se exercitou. Mudanças essas que não foram encontradas na perna que não foi exercitada.
O mais interessante do estudo é que ele demostrou de forma clara mudanças em regiões dos genes chamados de catalisadores, regiões do gene que amplificam a resposta da expressão Genica. E essas mudanças aconteceram em milhares pontos nas células estudadas. No entanto, tais adaptações não ocorreram na perna não exercitada.
Muitos dos genes estudados exercem papel fundamental no metabolismo energético, na resposta à insulina e na inflamaçãoo dos tecidos. Em outras palavras, esses genes interferem diretamente em quão fortes e saudáveis podem se tornar os nossos músculos, e por consequência nossos corpos.
Algumas questões ainda faltam ser estudadas. Questões como se esses benefícios continuam mesmo após um tempo de inatividade ou como diferentes tipos de exercício afetam os padrões de metilação e a expressão genética.
Em resumo, temos mais um forte indicador que o treinamento de endurance, um recurso que está disponível para todos sem custar nada, pode melhorar e muito a qualidade de vida das pessoas.
Basta apenas ter força de vontade de levantar do sofá e ir fazer exercício!
Mãos a obra?
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